Cidades de SP e MG fecham colégios e multam desperdício

Por Dhiego Maia e Fabricio Iobel

A avenida Deputado Renato Azeredo, no município mineiro de Campo do Meio, há muito tempo recebeu o apelido de Beira Lago. Não há ninguém na cidade que a chame de outro nome, já que ela percorre a margem do extenso lago da represa de Furnas que passa por lá.

Ou melhor, percorria. A estiagem mais severa dos últimos anos fez a água recuar cerca de 5 km e sumir da vista dos moradores da cidade.

"A Beira Lago se transformou em Beira Pasto", diz o prefeito Robson Machado, em referência às vacas que pastam no que já foi um alagado da cidade a 335 quilômetros de Belo Horizonte.

A devastação causada pela seca no interior de Minas e de São Paulo mudou a paisagem dos municípios e já afeta serviços públicos.

Em Cristais Paulista (a 414 km ao norte de SP), as aulas tiveram que ser canceladas, pois não era possível manter água nos banheiros.

A cidade decretou estado de emergência. Também devido à crise, aulas foram suspensas em Oliveira (a 160 km de Belo Horizonte) durante duas semanas.

Em Itu (a 101 km de SP), sob racionamento oficial desde fevereiro, os moradores fazem fila de madrugada para encher baldes, panelas e garrafões em bicas.

A prefeitura teve que disponibilizar 44 caminhões-pipa e 24 caminhões-tanque (com maior capacidade de reserva) para tentar suprir a demanda. Mesmo assim, as queixas continuam.

Puxadinho

Para driblar a crise, municípios têm adotado medidas emergenciais tanto para aumentar a oferta de água como para punir quem mais desperdiça. Elas vão do cálculo ao improviso.

Em Águas da Prata (a 224 km de SP), o prefeito Samuel Binati (PSC) publicou lei que obriga a Sabesp a decretar racionamento no município.

A companhia se recusou, alegando não haver necessidade de tal medida. Assim como em Águas da Prata, a Sabesp descarta a necessidade de racionamento nos 363 municípios em que atua (56% das cidades paulistas).

Já em Alagoa (a 450 km de Belo Horizonte), a saída encontrada pela prefeitura foi um "puxadinho" de canos com 4,5 km de extensão, construído emergencialmente para captar a água de uma cachoeira.

Em Santa Isabel (a 61 km de SP), no Vale do Paraíba, como em muitas cidades atingidas pela seca, a prefeitura recorreu a caminhões-pipa. Como a oferta é limitada, uma lei prioriza domicílios com idosos e doentes.

A multa a quem desperdiça água foi adotada por ao menos 19 cidades de São Paulo e de Minas.

Em Vargem Grande do Sul (a 234 km ao norte de SP), ser flagrado lavando a calçada com mangueira pode custar R$ 750 caso o morador já tenha recebido advertência.

Muitos municípios também correm para perfurar novos poços semiartesianos, que são mais superficiais e dependentes do regime de chuvas, para complementar o abastecimento de água.

Segundo a Copasa, responsável pelo abastecimento de 74% dos municípios mineiros (ou 631 de 853), já faltou água nas torneiras em cidades das regiões sul, centro-oeste e sudeste do Estado.

A companhia admite que vai demorar muito para o nível dos mananciais voltar ao normal depois da estiagem deste ano.

O presidente da empresa, Ricardo Simões, alega que o cenário poderia ser pior.

Ele afirma que os investimentos em captação direta em rios e represas, construção de poços e preservação das nascentes minimizaram o impacto da falta de chuva.

Segundo ele, o cenário deve ser amenizado com volta das chuvas do final do ano. 

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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