Projeto para crise da água pode provocar rodízio no interior de SP

Por Artur Rodrigues e Heloisa Brenha

O diretor-presidente da ANA (Agência Nacional de Águas), Vicente Andreu, afirmou nesta terça (30) que o plano para lidar com a crise hídrica paulista, a ser discutido nesta semana, afetará apenas cidades do interior, na área das bacias PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí).

O dirigente da agência federal disse que, se aprovada, a medida "não afetará o sistema Cantareira e a Sabesp" no fornecimento de água à Grande São Paulo, mas municípios situados na região das bacias, como Campinas e Piracicaba.

Andreu avaliou que alguns deles "evidentemente terão de adotar racionamento" se as restrições forem aprovadas.

O plano prevê reduções e até interrupções diárias na retirada de água dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí e seus afluentes, que atendem cerca de 5,5 milhões de pessoas no interior paulista.

Sua minuta fala genericamente que as regras valeriam para "captações (…) nas áreas das bacias", que abrangem quatro das represas do Cantareira. Elas respondem por quase toda a capacidade de armazenamento do sistema, coletando das bacias PCJ.

A água segue por canais e túneis até uma quinta represa, a Paiva Castro, na bacia Alto Tietê. Segundo Andreu, como a Sabesp só capta água desta última represa para atender a Grande São Paulo, não terá de se submeter às regras para as bacias PCJ.

Se aprovadas, as restrições atingirão só usuários "diretos" dessas bacias, como empresas de saneamento, produtores rurais e indústrias.

Eles terão de reduzir suas captações em 20% ou 30% e interrompê-las por cinco ou seis horas diárias, enquanto o nível do Cantareira estiver abaixo de 5% e as vazões dos rios estiverem muito baixas.

Para especialistas, as restrições deveriam valer para as captações da Sabesp para a região metropolitana de São Paulo, que vêm esvaziando os reservatórios.

Ontem (30/9), o Cantareira tinha só 6,9% da água que é capaz de guardar, para abastecer cerca de 6,5 milhões de pessoas na Grande SP.

Antonio Carlos Zuffo, professor da Unicamp, diz que os municípios do interior serão sacrificados. "Com a ação tardia, o remédio vem amargo. Esperaram os reservatórios esvaziarem demais", diz.

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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