Governo diz que 1ª reserva do Cantareira pode zerar em 57 dias

Cálculo de secretário de Alckmin aponta que a segunda cota do volume morto do manancial deve ser captada a partir de 21 de novembro pela Sabesp.

Por Ricardo Chapola e Fabio Leite

O secretário paulista de Saneamento e Recursos Hídricos, Mauro Arce, previu nesta quinta-feira, 25, que a primeira cota do volume morto do Sistema Cantareira deve durar até o dia 21 de novembro, ou seja, 56 dias, se a quantidade de água que chega aos reservatórios continuar como está, 30% da média histórica. Restam hoje nas represas apenas 72,3 bilhões de litros da reserva profunda do manancial, que começou a ser bombeada no dia 31 de maio, para atender cerca de 6,5 milhões de pessoas só na Grande São Paulo. 

“Continuando sem chover, o atual volume do Cantareira nos garantiria (…) até o dia 21 de novembro, com o volume que eu tenho hoje”, disse Arce, durante visita ao Parque Várzeas do Tietê, na zona leste de São Paulo, ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Segundo ele, assim que a primeira reserva esgotar-se, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) iniciará a retirada da segunda cota, de 106 bilhões de litros. 

A concessionária está finalizando as obras na Represa Jacareí, em Joanópolis, para poder retirar água das profundezas do reservatório. O uso dessa segunda cota, contudo, ainda não foi liberado pelos órgãos gestores do manancial, e é alvo de discórdia entre o presidente da Agência Nacional das Águas (ANA), Vicente Andreu, e Arce. O dirigente do órgão federal cobra um plano de contingência da Sabesp e a preservação de uma parte da reserva para o fim deste ano. O governo Alckmin, contudo, conta com esse volume para garantir o abastecimento da Grande São Paulo até março de 2015 sem decretar racionamento oficial de água.

“Nós estamos preparados (para captar). Mas talvez nem precise da chamada segunda reserva técnica”, disse Alckmin, que acredita que a chegada da temporada de chuvas, que vai de outubro a março, amenize a crise do Cantareira e ajude a recompor o nível das represas. Há três meses, o tucano havia descartado o uso da segunda cota do volume morto.

Nas agendas públicas, Alckmin repetia aos jornalistas que aprendera com seu pai que “chove em mês com ‘r’”, sugerindo que começaria a chover a partir de setembro. Passados 25 dias deste mês, porém, choveu no Cantareira apenas 40 milímetros, menos da metade da média histórica, de 91,9 milímetros, conforme dados divulgados pela Sabesp.

De acordo com diário da ANA e do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE), o volume de água que tem chegado às cinco represas que formam o Cantareira corresponde a apenas 30,7% da média histórica de setembro. Pelo nono mês seguido, a vazão afluente ao sistema bate recorde negativo, ficando abaixo do pior índice para o período em 84 anos de levantamento. 

Enquanto tem chegado ao sistema 6,86 mil litros por segundo, 23 mil litros por segundo têm sido retirados das represas para abastecer 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo e cerca de 5 milhões na região de Campinas. Diante desse cenário, o Cantareira deve encerrar setembro com um déficit de aproximadamente 40 bilhões de litros. Neste mês, a ANA divulgou um acordo com o governo paulista para reduzir a retirada do Cantareira em 2,6 mil litros por segundo até novembro, mas Arce negou. O impasse causou troca de acusações entre os dirigentes e a saída da agência federal do comitê anticrise do sistema.

Esgoto

Mauro Arce disse nesta quinta que o governo Alckmin está isentando da cobrança da taxa de esgoto quem substituir o uso de água superficial por captação em poços artesianos. Como o valor cobrado pelo esgoto corresponde ao valor gasto com água, a Sabesp costuma calcular uma taxa de esgoto para quem capta água subterrânea. Agora, eles ficarão isentos dessa cobrança durante a crise de estiagem em São Paulo.

Nesta semana, o Estado revelou que a gestão Fernando Haddad (PT) vai contratar uma empresa para perfurar poços semiartesianos na capital, na região das 32 subprefeituras, para suprir uma possível falta de água em escolas e hospitais.

Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo

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