Sabesp vê ‘economia fabulosa’ em ação que reduz envio de água

Queda da distribuição ocorre com pressão menor na rede de madrugada, 'acompanhando' a demanda, diz diretor; Companhia nega que já esteja adotando racionamento na região metropolitana de SP; especialistas discordam.

Por Heloisa Brenha

O diretor da Sabesp para a região metropolitana de São Paulo, Paulo Massato, afirmou nesta segunda (28) que a empresa estadual de abastecimento vem reduzindo a pressão da água distribuída à noite e que, com isso, obteve uma "economia fabulosa".

Em entrevista à rádio CBN, o representante da estatal negou que a medida seja equivalente a um racionamento e disse que ela não tem relação com as reclamações de falta d'água que vêm se multiplicando na capital paulista.

"Racionamento significa reduzir a cota de água por habitante, e nós não estamos fazendo isso. O que estamos fazendo é (…) uma redução da pressão no período noturno acompanhando a curva de consumo de cada setor de abastecimento", afirmou.

Segundo Massato, a diminuição na pressão poupou de "2.500 a 2.800 litros por segundo" do sistema Cantareira –o equivalente a 11,4% ou 12,8% da média de 21.830 litros de água por segundo captados neste mês para atender quase 9 milhões de pessoas na Grande São Paulo.

Especialistas dizem que, para obter uma economia de água dessa magnitude, é necessário uma grande operação. "Dificilmente se conseguiria essa quantidade mantendo o nível mínimo de pressão para abastecer as casas", afirma Edevar Luvizotto Jr., professor de engenharia hidráulica da Unicamp.

Uma norma da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) determina que a pressão mínima deve ser de 10 MCA (metros por coluna de água), o suficiente para abastecer uma caixa d'água a 10 metros de altura, ou um prédio de três andares, sem o uso de bombas.

Na semana passada, a Arsesp (agência que fiscaliza o setor) abriu investigação para apurar se a Sabesp está respeitando esse limite. Em nota, a empresa diz que segue a ABNT e que "a redução de pressão não priva os consumidores do abastecimento".

"Independentemente do nome que se dê, se falta água todo dia, em certo período, é um racionamento", afirma Paulo Ferreira, professor de saneamento do Mackenzie.

Racionamento

Nesta segunda, o nível do sistema chegou a 15,8%.

O Ministério Público Federal recomendou ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) e à Sabesp que apresentem projetos para o imediato racionamento de água na região do Cantareira, para evitar um colapso de abastecimento.

Alckmin, porém, aguarda autorização dos órgãos reguladores para captar uma segunda cota, de 100 bilhões de litros, do chamado "volume morto" (reserva de água abaixo da linha de captação das represas). Dos 182,5 bilhões de litros da primeira cota, captados desde maio, 36,5% já foram consumidos.

A Sabesp disse, em nota, que discorda do racionamento e que garante o abastecimento até a chegada da estação chuvosa.

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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