“Corredor de ônibus da Rebouças tem 4 táxis para cada ônibus, diz estudo” – G1

Medição feita em horário de pico faz parte de pesquisa da Prefeitura. MP pede revogação de permissão de uso de faixas por taxistas.
 
Márcio Pinho, do G1
 
O corredor de ônibus Campo Limpo-Rebouças-Centro tem quase quatro táxis trafegando para cada ônibus em horários de pico. O dado faz parte de um estudo feito pela Secretaria Municipal dos Transportes de São Paulo e entregue ao Ministério Público, órgão que pediu nesta terça-feira (17) a revogação da permissão dada aos taxistas para trafegar nos corredores. Caso a administração não determine o veto em 45 dias, a Promotoria ameaça entrar na Justiça.
 
A secretaria contou 462 táxis no sentido Centro do corredor no pico da manhã (7h às 10h). No mesmo intervalo, passaram 295 ônibus. Já no pico da tarde (17h às 20h), foram 855 táxis para 226 ônibus. A média foi de 3,78 táxis para cada ônibus no corredor considerando os dois horários de maior trânsito, segundo medições feitas em outubro deste ano.
 
No caso da Rebouças, há pontos em que os ônibus trafegam a 7 km/h, como na região da Avenida Brasil. A estimativa da CET é que, sem os táxis, a velocidade poderia aumentar 25% no sentido bairro e 19% no sentido centro.
 
E há ainda pontos piores, como no Corredor João Dias. Um trecho da Avenida Santo Amaro tem velocidade de 3,74 km/h, menor do que o desenvolvido por uma pessoa caminhando.
 
A pesquisa da Prefeitura, que analisou nove corredores da cidade (totalizando 101 km), concluiu que a presença dos táxis reduz a velocidade dos ônibus e que apenas os coletivos deveriam circular nos corredores. A permissão foi concedida em 2004, na gestão Marta Suplicy, e vigora até hoje.
 
Para Horácio Figueira, especialista em engenharia de transportes e colaborador voluntário da Rede Nossa São Paulo, a licença para trafegar nos corredores jamais deveria ter sido dada aos táxis. “Eles atrapalham o coletivo em função do individual”, disse ao G1. “Isso não é democrático."
 
Procurados nesta terça, o Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo e a Associação Nacional das Cooperativas e Associações de Motoristas de Táxis não retornaram as ligações da equipe de reportagem até o fechamento deste texto.
 
Na semana passada, o presidente do sindicato dos taxistas, Natalício Bezerra Silva, afirmou que a presença dos táxis nos corredores de ônibus "é necessária" para a fluidez do tráfego. "Muita gente decidiu não sair mais de carro e ir trabalhar de táxi", disse Silva.
 
Ele defende que é questão de "bom senso" não restringir o trabalho dos taxistas e criticou a forma como as faixas exclusivas foram implantadas pela gestão Haddad. "A Prefeitura fez faixas de forma aleatória, sem estudos", disse.
 
Para evitar controvérsia, o engenheiro Figueira sugere outra pesquisa, a ser feita quando as férias escolares terminarem: proibir táxis nos corredores durante 15 dias e permitir o acesso deles na quinzena posterior. Com base nos dados dos aparelhos de GPS instalados nos ônibus, seria possível comparar o impacto dos táxis na velocidade média dos coletivos. “Se comprovar que com o táxi o tempo de viagem do ônibus é maior, já justifica [a proibição]. É uma prova técnica, científica”, disse o especialista.
 
Baixa velocidade
 
O estudo entregue ao Ministério Público nesta terça reúne dados de três levantamentos. Dois são de órgãos da Secretaria dos Transportes, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e a SPTrans. Há ainda um trabalho de campo de uma empresa contratada.
 
A principal preocupação das autoridades com o entra e sai de veículos no corredor é a baixa velocidade dos ônibus. O secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, afirma que o estudo constatou que a velocidade do ônibus é limitada em 25% em razão dos táxis. Tabelas do estudo mostram que essa limitação se dá no sentido Centro dos corredores. Já no sentido bairro, a velocidade que os ônibus poderiam desenvolver fica 31,6% menor em média.
 
Passageiros
 
A premissa do Ministério Público e da Prefeitura é a de que o número de passageiros transportados pelos táxis é muito pequeno em relação ao espaço que esses veículos ocupam. Menos de 1% dos passageiros que passam pelo corredor são transportados de táxi.
No caso da Rebouças, durante uma hora no pico, 250 passageiros de táxi impactam 30.328 usuários de ônibus, segundo o estudo.
 
(*Colaboraram Paulo Toledo Piza e Marcelo Mora)
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