“Melhor em infraestrutura, SP ‘esconde’ sutilezas” – Folha de S.Paulo

Cidade tem grandes desníveis entre bairros e mesmo aqueles 100% atendidos têm falhas que os números não mostram.
 
Marcelo Soares
 
Em Santa Cecília, bairro central de São Paulo, uma octogenária tentava anteontem atravessar a rua ao sair da farmácia quando começou a cair para trás devido ao desnível do asfalto – que formava um "morro". Por ajuda de um passante, teve mais sorte que a atriz Beatriz Segall.
 
No Índice de Bem-Estar Urbano (Ibeu), o item mais correlacionado ao resultado final é a infraestrutura urbana.
 
Ela inclui iluminação pública, pavimentação, calçadas, meio-fio e guias, bueiros, rampas para cadeirantes e identificação de logradouro.
 
Embora São Paulo seja a melhor colocada em infraestrutura no índice, há sutilezas aí. Há mais desníveis desse item entre um bairro e outro do que os da calçada que quase derrubou a octogenária. E a realidade concreta tem o péssimo costume de mostrar que os números não são bem assim.
 
As divisões censitárias, 310 em São Paulo, não são exatamente iguais a bairros. Podem ser do tamanho de um bairro ou de um quarteirão. Dessas divisões, há 14 em que todas as casas têm calçadas e uma em que apenas 6,4% as têm.
 
Numa cidade onde o pedestre precisa pedir licença so carro, 9 em 10 divisões têm mais de 90% das casas em ruas pavimentadas. Rampa para cadeirante? Nenhuma divisão as tem defronte a todas as casas, e 24 simplesmente não as têm.
 
A mera constatação desses dados, que dá forma ao índice, não entra no mérito da qualidade desses elementos.
 
A rua onde a senhorinha quase caiu tinha calçada, meio-fio e pavimentação. Mas a calçada era irregular, o pavimento era torto e o meio-fio era desnivelado. Essa região contaria, porém, como 100% atendida nos dados do Censo usados no Ibeu.
 
Imagine o bem-estar de um idoso ou cadeirante onde nem esses 100% falhos existem.
 
São Paulo tinha em 2010 meio milhão de habitantes com mais de 50 anos e pelo menos algum grau de dificuldade motora, segundo o Censo. Mas eles não são os únicos que sofrem com a qualidade das calçadas, numa cidade majoritariamente voltada para o carro.
 
A prefeitura prometeu, no começo do mês, começar a refazer 85 mil m² de calçadas, nas principais avenidas, a tempo de inglês poder ver na Copa, em julho. Ainda que consiga cumprir o prazo, mal dará para o começo.
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