“Estado dará R$ 1.350 por mês para cada paciente tratado em entidade credenciada” – Folha de S.Paulo

Objetivo é evitar que dependentes químicos que passaram por hospitais públicos tenham recaídas
AFONSO BENITES DE SÃO PAULO

O governo de São Paulo vai pagar um tipo de "bolsa anticrack", no valor mensal de R$ 1.350 por paciente, para tentar evitar que viciados que passaram por desintoxicação em hospitais e clínicas públicas tenham recaídas.

Cada beneficiado ganhará esse crédito para receber tratamento em entidades sem vínculo governamental que serão credenciadas pelo Estado a partir deste mês.

O paciente não receberá a quantia diretamente, mas ganhará um cartão magnético correspondente ao benefício.

O cartão será usado para comprovar que os viciados passaram pelo atendimento nas comunidades terapêuticas (centros privados ou de ONGs que acolhem dependentes químicos) que serão pagas pelo governo estadual.

O tempo máximo de internação será de seis meses.

O anúncio do programa deve ser feito amanhã pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). O Estado adotou outras ações nos últimos meses com a justificativa de combater a difusão do crack, mas que receberam críticas.

Por exemplo, a ocupação da cracolândia pela polícia e a possibilidade de internação compulsória de viciados.

A "bolsa anticrack" será chamada de Cartão Recomeço e foi baseada em um programa similar de Minas, também governado pelo PSDB.

Na primeira etapa devem ser distribuídos cerca de 3.000 cartões. Nos próximos dias, será lançado um edital para credenciar as primeiras 300 entidades. Os pacientes devem começar a receber tratamento a partir de julho.

Atualmente, cerca de 30 entidades, a maioria com caráter religioso, têm convênios no Estado (sem que haja cartão aos beneficiados).

Nas comunidades, os pacientes tratarão da abstinência, receberão qualificação profissional e vão se reaproximar de familiares e amigos.

"A ideia é preparar o ambiente para que ele possa viver longe das drogas, sem recaídas e perto da família", disse Rodrigo Garcia, secretário de Desenvolvimento Social.

Em princípio, dez cidades de médio e grande porte terão comunidades credenciadas, como Campinas, São José dos Campos e Santos.

A pesquisadora Clarice Sandi Madruga, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), se diz preocupada com a escolha das instituições que receberão os usuários. Para ela, o tratamento não pode se basear no isolamento de pacientes em entidades religiosas. "Para não recair, o paciente precisa de um tratamento que pense em recolocá-lo na sociedade."

Entre os estudos sobre a reincidência dos usuários de crack, um deles aponta que o índice beira 40% em um ano.

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