“Homicídios têm a 7ª alta seguida em SP” – Folha de S.Paulo

Sequência de aumentos é a mais longa em três anos; crescimento foi de 13% em fevereiro em relação ao mesmo mês de 2012

Na Grande São Paulo, aumento foi de 32%; Alckmin diz que houve queda em relação a janeiro e dezembro

ANDRÉ MONTEIRO
DE SÃO PAULO

O Estado de São Paulo teve a sétima alta seguida nos casos de homicídio doloso (intencional), o que configura a sequência mais longa registrada nos últimos três anos.

Segundo dados divulgados ontem pela Secretaria de Estado da Segurança Pública, o índice subiu 13% em fevereiro. Os casos passaram de 328 para 371, com 391 vítimas.

Um mesmo registro pode ter mais de uma morte, como no caso de chacinas, por isso, o total de vítimas é maior.

O aumento foi puxado novamente pelos 38 municípios que compõem a Grande São Paulo (fora a capital). A região, que já havia sido pivô da alta em janeiro, teve alta de 32% -76 casos para 100.

De acordo com especialistas, a forte presença do crime organizado na região e o fato de algumas cidades ficarem na divisa com áreas mais violentas da capital podem ter contribuído para o aumento.

Na cidade de São Paulo, houve alta de 14% nos homicídios (de 78 casos para 89) e, no interior, de 5% (de 174 ocorrências para 182).

Para Luciana Guimarães, diretora do Instituto Sou da Paz, as altas ainda são reflexo das políticas adotadas na gestão do ex-secretário Antônio Ferreira Pinto, que ela classificou de "retrocesso".

Ele deixou o cargo após uma onda de violência no final de 2012 e foi substituído por Fernando Grella.

"Quando há retrocesso, ficamos sentindo muito tempo. O aumento [dos assassinatos] persiste, mas está mudando a proporção. É importante não mudar esse novo caminho, de ênfase na investigação, na polícia que age em cima dos problemas."

Para José dos Reis Santos Filho, que coordena o núcleo de estudos de violência na Unesp de Araraquara, ainda falta ao governo promover a participação de universidades e ONGs em questões relacionadas à criminalidade.

OUTROS CRIMES

Também houve alta no Estado de homicídios (29%) e de lesão corporal (33%) culposos -não intencionais. Os casos de roubo a banco caíram 29% -de 21 para 15.

Na capital, apesar de o roubo de veículos ter caído 1,3%, a região da Freguesia do Ó (zona norte) viu o número de casos triplicar -21 para 69.

Segundo o delegado Nicola Romanini, responsável pela área, o motivo é uma onda de roubo de motocicletas.

Para o governo, as estatísticas mostram que há uma tendência de queda na criminalidade, já que os números estão caindo na comparação com os meses antecedentes.

"Em janeiro, os indicadores foram menores que os de dezembro e, em fevereiro, que os de janeiro. Isso indica que temos que perseverar nesse trabalho", disse o governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Porém, a forma mais indicada para analisar dados de violência -adotada pelo manual da própria secretaria- é comparar dados de um mês com os do mesmo mês do ano anterior, minimizando a influência de questões sazonais, como as férias.

Apesar das altas seguidas, São Paulo tinha em 2011 (último ano com dados nacionais) uma taxa de homicídios de 10,1 a cada 100 mil habitantes, a menor do país.

 

Entrevista

Secretário planeja divulgar dados diários de violência
DE SÃO PAULO

Para
o secretário estadual da Segurança Pública Fernando Grella, que assumiu
o cargo em novembro, a sequência de aumentos nos homicídios pode ser
explicada pelos baixos índices do início de 2012.

Ele estuda uma nova ferramenta de divulgação diária das estatísticas para que a população exerça uma "pressão legítima".

A que o senhor atribui as altas sucessivas?
Fernando
Grella – Os índices do primeiro semestre de 2012 foram muito reduzidos,
e nós experimentamos aquela fase atípica de violência, que elevou os
homicídios e outros crimes. Então é natural que para reduzir isso
precise de um tempo. Mas nós temos dados animadores, que indicam uma
tendência de redução.

Os índices vão cair?
Todo o esforço que
estamos fazendo vai surtir efeito ao longo do tempo, não há medidas
mágicas de efeito abrupto. O que há de positivo é que começa a ser
sinalizada uma tendência de queda. Mas é cedo também para falar, nós
precisamos de mais tempo para saber.

Que medidas estão sendo adotadas para mudar isso?
Uma
delas começamos agora, e seus efeitos serão sentidos daqui a um mês,
que são as reuniões com os comandantes das polícias Civil e Militar das
diversas regiões do Estado para apresentarmos os indicadores e os pontos
críticos. Eles têm que fazer uma leitura das ocorrências, porque estão
acontecendo e executar um plano.

O que pode ser feito na área de tecnologia?
Hoje
temos o Infocrim [banco de dados], mas falta um sistema que,
acontecendo o segundo crime no mesmo local, sinalize. A sociedade tem
que saber onde está ocorrendo a maioria dos crimes para exercer pressão
legítima. Hoje nós divulgamos os dados mês a mês, quem sabe com um
sistema desses a gente não pode ter divulgação diária. Isso deve demorar
pelo menos um ano.

Leia também: "Para o New York Times, tudo vai bem por aqui" – Diário do Comércio 

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