“Diesel S-10 nos motores e menos poluição no ar” – O Globo

Um habitante do Rio de Janeiro tem 16% a mais de chances de morrer de doenças provenientes da poluição do ar do que um morador de qualquer município pacato do Brasil ou do mundo, segundo o Laboratório de Poluição Atmosférica da USP. Engarrafamentos e descargas industriais são hoje os maiores vilões do meio ambiente e o setor automobilístico é, individualmente, üm dos grandes responsáveis pela poluição. Mas uma mudança já no início de 2013 promete reduzir a emissão veicular, com a produção em série do diesel S-10 pela Petrobras — um óleo com uma quantidade de enxofre dez vezes menor que o produto comercializado atualmente. O primeiro lote do novo diesel foi entregue às distribuidoras no polo de São Luiz (MA), no último dia 3 de dezembro. As frotas de caminhão e ônibus são o público alvo do novo combustível.

Por enquanto, são sete as refinarias da empresa prontas para fabricar o combustível, segundo o setor de Abastecimento da companhia. O aínúncio oficial do lançamento do novo diesel vai ocorrer no final do mês, mas, provavelmente, não será acompanhado de pompa e circunstância. É que a chegada do diesel S-10 às distribuidoras é fruto de uma longa queda de braço entre o governo, as montadoras e a Petrobras. Pressionado e com metas a cumprir, o governo aprovou um cro-nograma que previa a substituição gradual do diesel S-1800, passando pelo S-500, S-50, S-10, até início de 2013. As montadoras de automóveis, já obrigadas a fazer substituições nos motores em função da legislação euro-peia, tentaram acelerar o processo no Brasil. Enquanto isso, a Petrobras postergou a mudança ao máximo, já que o refino do novo di-esel é muito mais caro e não significa valorização do produto.

Se a petrolífera fosse exportadora de diesel, iria querer o S-10, valorizado no exterior. Mas não é, e no Brasil o preço pago à refinaria é controlado pelo governo. Serão só mais gastos. Foram mais fortes, porém, demandas da sociedade civil por um combustível que afete essão que o governo aprovou a regulamentação que obriga a mudança — explicou Alexandre Szklo, engenheiro da Coppe/UFRJ .

Na nomenclatura do combustível, o "S" se refere ao próprio enxofre, e o número que segue define a quantidade em partes por milhão do combustível. Em relação ao diesel S-500, o S-10 significa a emissão de cinqüenta vezes menos enxofre no ar e, de acordo com a Petrobras, representa queda de 80% das emissões de material particulado e de 98% de óxidos de nitrogênio. Entre 2005 e 2011, foram investidos R$ 19,6 bilhões para a produção e movimentação do diesel de baixo teor de enxofre. Entre 2012 e 2016, serão investidos mais R$ 20,7 bilhões. Em 2013, a oferta do S-10 chegará a mais três polos de venda no Brasil, que possibilitarão o abastecimento de cerca de 78 bases de distribuição e cerca de 5.900 postos revendedores.

Fundador do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, Oded Grajew comentou:

— Na Europa e nos Estados Unidos, o S-10 já está disponível. Aqui, o S-50 deveria estar em todo o país desde 2009, mas até hoje não chegou ao mercado. Enxofre no diesel mata, causa graves e sérios problemas de saúde.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), por sua vez, ressaltou que, desde janeiro de 2012, as empresas foram obrigadas a substituir a tecnologia de seus veículos. A mudança foi uma das exigências feitas pelo Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), do governo federal.

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