“Estudo sobre poluição vai analisar bebês” – Jornal da Tarde

 

Instituto vai monitorar gestantes para avaliar efeitos e custos da contaminação do ar

FERNANDA ARANDA, fernanda.aranda@grupoestado.com.br

Um novo instituto, formado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), acaba de ser criado com a missão de colocar na ponta do lápis quais são os prejuízos financeiros provocados pela poluição. O primeiro objeto de estudo são 400 grávidas paulistanas. As gestantes serão monitoradas no Hospital Universitário (HU) e os relatórios vão apontar os principais efeitos dos poluentes nas gestações e nos bebês.

A verba inicial para o Instituto Nacional de Análise Integrada de Risco Ambiental dar início às atividades foi de R$ 7,5 milhões, recursos repassados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Médicos, economistas, geógrafos e engenheiros são alguns dos que fazem parte da iniciativa, coordenada por Paulo Saldiva, que comanda o Laboratório de Poluição da USP.

O passo inicial foi dado com a seleção das futuras mães que, durante toda a gestação, terão um móbile fixado em suas casas. Este objeto vai avaliar o contato das gestantes com os gases tóxicos. Após o nascimento dos bebês e até eles completarem 3 anos, conta Saldiva, serão cruzados os índices de baixo peso ao nascer, abortamento e outras doenças com as taxas de exposição à poluição que enfrentaram as mães .

Além das grávidas, estão em andamento outros três projetos nesse instituto que mensuram estragos em outras áreas causados pela fumaça preta dos veículos – responsáveis por 90% da emissão dos poluentes, segundo a Cetesb.

“Transformar em valores os males provocados pelos poluentes é uma forma de sensibilizar os governos sobre o prejuízo de não investir em políticas de redução de poluição”, opina o pneumologista do Instituto do Coração, Ubiratan Santos, que já realizou trabalhos sobre as sequelas dos gases.

Em projeções conservadoras, os especialistas do instituto já concluíram que anualmente são R$ 1,5 bilhão gastos pelo sistema de Saúde (público e privado) só para custear as internações decorrentes de poluentes, sem contar as 12 mortes registradas por dia na Região Metropolitana (quatro óbitos a mais do que a média diária de homicídios, mostram os dados da Secretaria de Segurança Pública). “Vamos mensurar um mal que ainda não é quantificado pelas as autoridades”, afirma Saldiva. “Por exemplo, saber que para ampliar o Metrô custa US$ 100 milhões por quilômetro, chega-se a conclusão que é possível investir neste transporte só com os custos economizados dos problemas de saúde desencadeados pela poluição”, diz ao calcular que além do SUS, é preciso levaram em conta também os “pacientes da poluição” em unidades privadas.

Em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)já foi iniciado, ano passado, o cálculo dos gastos com poluição em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba e Recife. A primeira conclusão é que a ‘cidade cinza’ não é atributo só de SP. Todas as cidades concentram mais poluentes do que o padrão estabelecido pela Organização Mundial de Saúde.

OS PROJETOS

Custos nas capitais : Já foi constatado que as cidades concentram partículas finas (um dos poluentes mais nocivos ao homem) acima dos 10 mg por m3, padrão seguro estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). São Paulo concentra 30mg; Rio 24 mg; Porto Alegre e Belo Horizonte 22mg; Curitiba 20 mg e Recife 13 mg. Agora, os custos serão mensurados

Grávidas: 400 gestantes, dos mais variados perfis – fumantes, não fumantes etc. – foram selecionadas para participar da pesquisa. Durante a gestação, e até as crianças completarem 3 anos, será monitorada a quantidade de exposição à poluição. Depois, os índices serão cruzados com prematuridade, abortamento, autismo e outros problemas de saúde que podem surgir nos bebês

Ar limpo: Outro projeto que será conduzido é um em que os pacientes serão submetidos a ar limpo em um container, para avaliar se o “tratamento” provoca melhora na condição de saúde dos doentes. Também serão ampliados programas de educação ambiental nas escolas em parceria com as comunidades

Câncer e poluição: Também será ampliado o projeto de monitoramento em algumas cidades como Cubatão e São José dos Campos, das taxas de mortalidade por câncer e os níveis de poluição encontrados no locais. Pesquisas nacionais e internacionais já relacionam este tipo de mortalidade com os poluentes

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