“ONU propõe nova relação de consumo para a sociedade” – O Estado de S.Paulo

 

O alemão Ruediger Kuehr, PhD em ciências políticas e sociais, coordena a iniciativa StEP (Solucionando o Problema do Lixo Eletrônico, na sigla em inglês), lançada oficialmente no ano passado pela Universidade das Nações Unidas. O programa monitora o descarte de resíduos tecnológicos industriais e domésticos no mundo, o e-lixo. Em entrevista ao Estado, Kuehr falou sobre os avanços na área e propôs uma nova relação entre fabricantes e consumidores.

O que é o problema do e-lixo?

Em 2000, quando começamos a investigar o tema, nos surpreendemos ao encontrar pouca informação sobre o destino final dos computadores. Além disso, nada se sabia sobre o descarte de outros eletrônicos. Essa foi a razão pela qual pensamos que os materiais eram enviados para países em desenvolvimento, onde talvez fossem descartados inadequadamente. Esse foi o ponto de partida para a StEP.

O que pode acontecer com o mundo se não pensarmos onde e como descartar esse tipo de lixo?

Primeiro, se esses equipamentos não forem devidamente reciclados, haverá mais danos ao meio ambiente e, principalmente, aos trabalhadores. Segundo, se não conseguirmos reutilizar os metais, vamos acabar com nossas reservas.

Se é possível lucrar com os metais preciosos dos computadores, por que alguns países os exportam para os mais pobres?

Pela redução de custos. Exporta-se esse tipo de produto buscando mão-de-obra barata e aumento da margem de lucro. Alguns países têm leis mais proibitivas, e elas são custosas. Descobrimos que grandes quantidades de e-lixo são transportadas pelo mundo por serem classificadas como reutilizáveis, embora não sejam.

A quem cabe a responsabilidade do descarte adequado?

Ao governo, às empresas e também ao consumidor final. Devemos estar cientes de que estamos usando produtos que demandam energia e causam impacto. Computadores podem ser fabricados de maneira mais sustentável, mas há até pouco tempo não havia procura nem pressão dos consumidores por esses equipamentos. Estamos equivocados ao eleger um culpado, ainda que os fabricantes tenham grande responsabilidade.

Como resolver a questão?

Aparelhos não podem ser fabricados sem metais preciosos e pesados. O que podemos fazer é diminuir o impacto disso na natureza. Esses produtos não se desmaterializam quando nos desfazemos deles. Não compramos um computador ou uma televisão; alugamos um serviço. Em última análise, a propriedade do equipamento ainda cabe ao fabricante. Por isso, é melhor que o produto seja desenvolvido de forma mais econômica, durável e eficiente.

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