“Orçamento e 2010 no alvo da crise mundial” – Jornal da Tarde

 

Piora na economia pode interferir na verba do próximo prefeito e na campanha presidencial

Fernanda Aranda, fernanda.aranda@grupoestado.com.br

Em meio à euforia e ao pânico, a crise econômica internacional – que assola os países desenvolvidos do mundo – projeta duas interferências na política brasileira. O primeiro impacto, descrito pelos economistas, é a possível ameaça no orçamento do próximo prefeito paulistano. O fato já foi sinalizado ontem: na publicação no Diário Oficial do Município, a expectativa de crescimento da cidade, que era de 4,1% em abril, foi reduzida para 3,74%. A outra provável interferência da crise mundial no cenário político do País, lembram os cientistas políticos, é a antecipação da queda-de-braço das eleições de 2010.

A sombra que ronda a receita orçamentária de quem estiver na Prefeitura em 2009, seja Gilberto Kassab (DEM) ou Marta Suplicy (PT), é causada porque a principal fonte de recursos municipal é a arrecadação tributária. E, em tempos difíceis, o consumo cai, o total de impostos recolhidos “emagrece” e os R$ 29,4 bilhões estipulados para serem gastos – segundo o Orçamento que ainda precisa ser aprovado pelos vereadores – pode diminuir; R$ 23,1 bilhões estão condicionados aos tributos.

Integrante do governo municipal avalia que, mantido cenário econômico, é “bastante provável” que a previsão de receitas tenha encolhimento. Mas descarta enxugar já a estimativa de arrecadação. “Caso a receita não se confirme, a tendência é a administração realizar contingenciamento (congelamento) da previsão de despesas em 2009”.

Já existem outros respingos da crise na economia paulistana, que esboçam comprometimento no Orçamento. Os bancos começaram a elevar os juros da casa própria (em até três pontos) e as facilidades de financiamento estão diminuindo. “O IPTU (imposto da casa) e o ISS (de serviço) são os principais fomentadores da receita da Prefeitura. O tom dos primeiros anos de gestão terá de ser de cautela”, alerta Paulo Brasil, especializado em orçamento público e presidente do Sindicato dos Economistas de São Paulo. “Por ora, nenhum deles (Marta ou Kassab) vai assumir que precisa rever o Orçamento. As propostas estão fincadas em obras e, ao mostrar preocupação, cairia a tese de que ambos são executores de serviço.”

Pelos planos orçamentários elaborados por Kassab – que, aprovados, valem para quem for eleito, mesmo que seja Marta – a receita está assegurada com a previsão que a cotação média do dólar fique em R$ 1,74 (a moeda americana fechou R$ 2,164 ontem) e que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 3,74% – sendo que até abril, segundo o site da Secretaria Municipal de Planejamento, a projeção era de 4,1% – informações creditadas ao Banco Central.

O Brasil também reduziu a projeção de 4,5% para 3,5%. “Uma queda na arrecadação, ainda que pequena, é esperada. Mas não dá para saber qual é a força da crise que chega aqui”, comenta o professor de economia da PUC João Bocchi.

Como as previsões econômicas são nebulosas, o atual prefeito negou, ao ser questionado no debate da TV Bandeirantes, que o Orçamento precise de revisão. “A cidade está preparada para enfrentar uma situação adversa”, disse Kassab

Eleições 2010

Se os efeitos da crise internacional no economia do País ainda não estão claros, os especialistas já enxergam com nitidez um outro efeito na política. “Certamente, a crise é o mote das eleições de 2010”, define o cientista político do Cepac Humberto Dantas. Os dois partidos mais cotados para assumir a Presidência – PT e PSDB – dependem do sucesso econômico de São Paulo para ganhar força. O tucano José Serra é ‘padrinho’ de Kassab, do DEM – partido que mais perdeu terreno nas eleições – e a força do sucessor do petista Lula também tem uma ponta de ligação com Marta (ela própria já foi cotada como candidata ao governo federal). Por isso, o cabo de guerra já deve começar em novembro.

“Lembrando que o tema pode ser munição de ataque ou defesa”, completa Dantas. “Se as coisas piorarem, a política econômica de Lula vira alvo. Agora, se o Brasil se portar como um pivô da recuperação, internacional, daí a força vem para o candidato do presidente.”

PREVISÃO

R$ 29 bilhões
é a receita total projetada para ser gasta em 2009, no primeiro ano de mandato do próximo prefeito

R$ 11,6 bilhões
desse valor viriam da receita tributária (IPTU e ISS, principalmente)

R$ 11,5 bilhões
do montante viriam da transferência corrente (repasse federal e
estadual de IPVA e ICMS)

DESIDRATAÇÃO

O Democratas (DEM), antigo PFL, foi o partido que mais perdeu capital político no primeiro turno das eleições municipais

Em 2009, vai deixar 176 prefeituras do País , o que indica uma baixa de 37%. Mas ainda pode conquistar a prefeitura de São Paulo, maior colégio eleitoral brasileiro, caso Gilberto Kassab vença

Em São Paulo, a maior prefeitura conquistada por ora pelo DEM foi Ribeirão Preto, com Darcy Vera

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