Centro expandido perde “uma Santos” em 11 anos

 

 

Foto: acervo do site sxc.hu

 

Fonte: Folha de S.Paulo

Total de moradores que deixaram a região equivale à população da cidade litorânea

Já a periferia da cidade inchou e tem 1,23 milhão de moradores a mais do que tinha em 1996; tendência preocupa urbanistas

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

RICARDO GALLO
DA REDAÇÃO

A psicóloga Elaine Martins, 43, cansou da vida na rua Cardoso de Almeida, coração do bairro de Perdizes, centro expandido de São Paulo. Depois de 12 anos de barulho da vizinha PUC, mudou-se com o marido e a mãe para uma casa no campo, num condomínio em Aldeia da Serra (Grande SP).

No outro lado da cidade, o porteiro José Orlando Inocêncio, 47, trocou o Jabaquara (zona sul) pelo distrito de Anhangüera (zona norte), na extrema periferia da capital. Ali, vive de aluguel enquanto constrói a primeira casa própria. Com ele vão viver mais seis pessoas, entre mulher e filhos.

A vida de Martins e de Inocêncio não se cruzam, mas são os retratos que indicam caminhos opostos do desenvolvimento da cidade de São Paulo nos últimos anos.

Levantamento da Folha com base em dados da Fundação Seade e do IBGE revelam duas tendências da cidade. Enquanto o centro expandido perde população suficiente para compor uma cidade do porte de Santos, a periferia incha o equivalente a Guarulhos.
Segundo o Seade, entre 1996, o primeiro ano com números disponíveis, e 2007, a base mais recente, o centro expandido, que abrange os bairros de alto poder aquisitivo, como Moema, perdeu 441 mil pessoas.

Nesse mesmo período, os extremos de São Paulo, onde estão as regiões mais pobres, como o Grajaú, ganharam cerca de 1,23 milhão de moradores.
Ao mesmo tempo, a população de cidades como Barueri, Vargem Grande Paulista e Santana de Parnaíba, que concentram condomínios de luxo na Grande São Paulo, quase dobrou no mesmo período.

O fenômeno tem nomes: urbanização dispersa ou espraiamento da ocupação. Ou seja, a cidade se expande para onde não deveria crescer.
O tema gera preocupações em aspectos como a distribuição de água, a coleta de lixo e o transporte público -serviços mais difíceis (e caros) nesse ambiente mais fragmentado do que a cidade tradicional.

Além disso, especialistas apontam implicações mais amplas e preocupantes, como a ocupação de áreas de mananciais e o uso intensivo do carro.
Para o professor da FAU Nestor Goulart Reis Filho, o deslocamento da indústria, e do emprego, que deixou regiões centrais como a Mooca e a Barra Funda nas últimas décadas, levou tanto a população rica quanto a pobre a migrar para perto das fábricas, e cada um mora onde tem condições de pagar. "As empresas saíram e as pessoas foram atrás delas."

Curiosamente, o movimento coincide com o boom imobiliário dos últimos dois anos nas regiões centrais, que, para o professor da FAU, é explicado pelo momento econômico.

"Durante muito tempo, não houve financiamento. Mas esse mercado é limitado", afirma.

Antes de trocar a Chácara Flora pela Granja Viana, os industriais Moysés e Graziella Tolisel alugaram uma casa na região para testar a adaptação da família. Todos gostaram.

"Quando não tem trânsito, levo 15 minutos até o shopping Iguatemi", diz Graziella. "A pergunta hoje é: a que distância fica da rodovia? Antes, era do centro", diz Reis Filho.

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