Roda de conversa aborda contradições e desafios da democracia participativa


A roda de conversa Sociedade Civil e Democracia Participativa marcou o evento de abertura do 1º Fórum Nossa São Paulo – Propostas para uma Cidade Justa e Sustentável.

O público aplaudiu diversas vezes as reflexões e comentários dos convidados: o escritor e religioso dominicano Frei Betto, o filósofo e professor da PUC-SP Mário Sérgio Cortella, a especialista em igualdade racial e coordenadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e da Desigualdade (CEERT), Cida Bento, a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, o ex-governador de São Paulo Claudio Lembo e o representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, Eduardo Ferreira.

Ouça entrevistas com Raquel Rolnik e Frei Betto

Além do assunto central – os espaços de participação popular nas decisões políticas – temas como corrupção na sociedade, o comprometimento dos políticos com os financiadores das campanhas eleitorais, a necessária transparência na utilização dos recursos públicos por parte das organizações não-governamentais também foram abordados pelos convidados.

Foi consenso entre os debatedores a opinião de que a sociedade civil deve pressionar o poder público para tomar parte nas decisões políticas. Para Frei Betto, a elite nunca precisou fazer passeata na frente do Palácio do Planalto porque “tem a chave” do poder. Ele comentou também uma lição aprendida quando esteve no governo federal: “governo é como feijão, só funciona na panela de pressão”. Para frei Betto, os políticos são empregados da população e por isso devem servi-la. “Sonho com o dia em que os políticos vão dizer ‘nossas autoridades’ ao se referir à população”, afirmou. Cortella fez um trocadilho ao reforçar opinião semelhante: “um poder que, em vez de servir, é um poder que se serve, esse poder não serve”.

Cida Bento avaliou que a sociedade civil poderia utilizar o Ministério Público como instrumento para fiscalizar e pressionar a classe política a agir pelo interesse coletivo. Cláudio Lembo discordou, dizendo que a Justiça também faz parte da mesma estrutura tradicional de poder que o Executivo e o Legislativo, e, portanto, a saída é mesmo a população achar novas formas de se unir e pressionar. Para Cortella, uma instância participativa é aquela capaz de se inconformar e esse é o papel da sociedade civil para tomar parte nas decisões.

Mas o grande desafio enfrentado pela democracia participativa, segundo Raquel Rolnik, é tornar os espaços de participação já constituídos mais representativos da vontade coletiva e menos sujeitos aos interesses corporativistas e à a troca de favores.

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