Qualidade do ar cai após 5 anos de melhorias

 

Fonte: Folha de S.Paulo

 Número de vezes em que a poluição ficou acima do aceitável teve um salto de 54% em 2007 em relação ao ano anterior

Mancha de poluição já avança 600 km da região metropolitana e atinge a região oeste do Estado; Inpe estuda migração desde 2002
DA REPORTAGEM LOCAL


Respirar ar puro na Grande São Paulo voltou a ficar mais difícil. O nível de poluição rompeu um ciclo de declínio que ocorria desde 2002, cresceu no ano passado e, pior, migra para o interior e o litoral do Estado.

Levantamento da Folha com base nos boletins diários de qualidade do ar da Cetesb aponta um salto de 54% no número de vezes -contando todas as medições do órgão- em que o ar ficou com qualidade inadequada ou má em 2007, comparando com 2006.


Além disso, o número de dias em que o ar esteve inaceitável em pelo menos uma das estações de medição, devido ao excesso de ozônio, subiu 45,6% entre 2006 e 2007. No ano passado, em 67 dias houve qualidade ruim do ar em ao menos um dos 24 pontos de monitoramento. Em 2006, foram 46.


Em outros sete dias de 2007 o ar estava ruim em pelo menos uma estação, mas por outros poluentes -monóxido de carbono, material particulado e dióxido de nitrogênio.


Segundo Carlos Lacava, assessor da diretoria de engenharia da Cetesb, São Paulo é uma das piores cidades do mundo em relação à poluição por ozônio. "É comparável à Cidade do México [uma das mais poluídas do mundo em razão de emissões urbanas]", afirma.


A queda na qualidade do ar coincide com a retomada da economia no país, que impulsionou o consumo de combustíveis e a venda de automóveis.


Houve aumento de 6,31% do consumo de óleo diesel, um dos principais poluentes da região metropolitana. E a cidade de São Paulo acaba de atingir a marca de 6 milhões de veículos.
Além de afetar o ar da região metropolitana -maior emissora de poluição urbana do hemisfério Sul-, a mancha de poluição já avança mais de 600 km e atinge o extremo oeste do Estado, à beira do rio Paraná.


O monitoramento por satélite feito pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) começou a detectar essa migração em 2002, mas não é possível dizer se o problema está aumentando ou caindo, já que seria preciso uma série histórica maior para comparar.


A Cetesb considera que estão esgotados os mecanismos que vinham sendo adotados para controlar a poluição, como a tecnologia que tornou automóveis menos poluentes e a adoção do rodízio de veículos.


Embora ainda não tenha clareza de novas medidas de controle, técnicos da agência estudam alternativas, como a inspeção veicular obrigatória e pressões pela melhoria da qualidade do óleo diesel, com menor adição de enxofre, papel da ANP (Agência Nacional de Petróleo) e da Petrobras.
Para o chefe do Laboratório de Física Atmosférica da USP, Paulo Artaxo, a poluição é um problema crítico de São Paulo. Porém, até agora não existe nenhum plano coerente de controle dos níveis de poluentes. "É dever do poder público ter um plano de longo prazo, com metas estabelecidas e punições para setores que não atingirem os objetivos", afirma.


Além da inspeção veicular, ele sugere entre as intervenções possíveis a ampliação da rede de metrô, pedágios urbanos e incentivo para veículos a gás, menos poluentes.

Mancha

Com maior controle das emissões, deve haver uma tendência de queda dos níveis de poluição também no interior do Estado. Isso porque a Grande SP exporta poluentes a centenas de quilômetros, conforme revela o monitoramento por satélite feito pelo Inpe.


Ainda não é possível dimensionar quanto da poluição do interior é oriunda da capital, já que muitos municípios "produzem" a sua própria poluição por conta dos veículos, indústrias e também em razão das queimadas. Testes da Cetesb indicam que há cidades em que o nível de poluentes ultrapassou índices adequados, como Jaú, Paulínia e Ribeirão Preto.


Por isso, a Cetesb planeja implantar dez estações de medição fora da Grande SP, onde o monitoramente esporádico revelou índices de qualidade ruins. A poluição já chegou, segundo o Inpe, a São Francisco Xavier, distrito de São José dos Campos encravado na serra da Mantiqueira, região de montanhas com fama de ter um dos melhores ares do mundo. (JOSÉ ERNESTO CREDENDIO E AFRA BALAZINA)

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