Moradores de rua crescem 10% em SP em quatro anos

Ritmo de aumento diminuiu, mas continua acima do da população geral; Censo feito na capital paulista aponta que mais de metade vive na Sé; para gestão Haddad, alta não é significativa.

Por Giba Bergamim Jr. e Adriano Vizoni

A cidade de São Paulo tem 15.905 moradores de rua, 10% mais do que há quatro anos. O ritmo de crescimento dessa população é bem superior ao dos demais habitantes, mas vem caindo: era de 5,14% ao ano na década de 2000 e baixou para 2,5% desde 2009.

Os dados fazem parte do censo dos moradores de rua feito pela Fipe/USP (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) entre fevereiro e março, a pedido da gestão Fernando Haddad (PT).

Eles apontam que, num intervalo de 15 anos, a população de rua cresceu 82% –é como se, a cada três dias, a cidade recebesse quatro moradores nessas condições.

Já a quantidade total de habitantes na capital paulista cresceu menos de 1% entre 2000 e 2010 –e 2,9% nos últimos cinco anos, segundo projeção da Fundação Seade.

O censo dos moradores de rua é um ponto de partida para definir as políticas sociais, como necessidade de ampliação de albergues e identificação de regiões vulneráveis.

Hoje, há 9.000 vagas nas casas de acolhida da cidade, quantidade insuficiente para receber essa população.

A pesquisa mostra que a maioria das pessoas nessa situação é de homens (82%).

Da faixa etária, a parcela predominante –36,6%– é de 31 a 49 anos. José Charlton, 41, e Silvia Helena de Souza, 43, estão entre eles.

O primeiro mora na rua há dois anos, em razão de briga com familiares. A segunda, há oito anos. Ela morava com a irmã, a mãe e cinco filhos no Ceará. Veio com todos para São Paulo –segundo ela, que é evangélica, "a mando de Deus"–, mas nem sabe mais onde eles estão agora.

O distrito que mais tem pessoas dormindo nas ruas é a Sé, no centro, que inclui a cracolândia –nele estão 52,7% dos moradores de rua da cidade. Em seguida aparecem Mooca (11,5%), Lapa (5,6%), Santana/Tucuruvi (3,7%) e Pinheiros (2,9%).

Sensação

A gestão Haddad minimizou a alta registrada pelo censo. "Não aumentou muito, embora muitos digam que há essa sensação. Antes, as pessoas ficavam escondidas em buracos, hoje ficam mais aparentes porque a gestão não busca um processo de higienização", diz a secretária de Assistência e Desenvolvimento Social, Luciana Temer.

Ela afirma que a prefeitura vem investindo na ampliação dos serviços, como casas de acolhida para famílias.

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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