Problemas respiratórios em crianças lotam hospitais infantis em SP

Internação cresce nesta época; unidades públicas registram espera de até 5 horas

Mariana Zylberkan e Thiago Braga – Folha de S. Paulo.

Hospitais infantis particulares de diferentes áreas da capital paulista têm recebido alta demanda de internação nos últimos dias e relatado a interessados inclusive a indisponibilidade de vagas.

A falta de espaço para internações foi informada à Folha por atendentes nos hospitais Sabará e Samaritano, na região central, na unidade Pompeia do hospital São Camilo, na zona oeste, e no hospital Albert Einstein, na zona sul.

O Albert Einstein nega oficialmente a indisponibilidade de leitos —apesar da informação dada por funcionário. Os demais não responderam.

A maior procura é motivada pela incidência do vírus sincicial respiratório, comum nesta época. “A circulação do vírus está pouco acima do normal neste ano, provocando mais internações por bronquiolite”, afirma o pediatra Jayme Murahovschi.

Cinthia Pereira, 42, estava com o neto de três meses internado na UTI do Sabará por causa de bronquiolite. “Ele já estava com tosse, mas foi a uma festa de família no fim de semana e piorou. Chegou roxo ao hospital, sem conseguir respirar, e foi entubado.”

O neto de Cinthia foi internado rapidamente devido à gravidade do quadro, mas, na tarde desta sexta-feira (20), pais esperavam ao menos duas horas e meia por atendimento no pronto-socorro.

A infecção produz quadro de resfriado forte, mas, como afeta os pulmões, pode evoluir para bronquiolite quando há acúmulo de muco nos brônquios e afeta a respiração.

Apesar da incidência acima do normal, infecções respiratórias pelo vírus ainda não provocaram superlotação nos hospitais infantis como na mesma época de 2017, quando o Sabará chegou a fechar as portas do pronto-socorro.

FILAS DE 5 HORAS

Quem levou crianças a hospitais públicos infantis de São Paulo nesta sexta também teve que enfrentar longas esperas —de até cinco horas— para ser atendido. A procura também era atribuída a problemas respiratórios, em meio à mudança no tempo.

Foi para evitar o agravamento do quadro de bronquiolite que a atriz Daniela Confessor, 39, levou o filho até o Hospital Infantil Cândido Fontoura, da gestão Márcio França (PSB), no Belém (zona leste).

Ela chegou ao local às 12h e até as 15h não havia sido atendida. “Esperava que o atendimento fosse mais ágil e que os funcionários fossem mais gentis”, reclamou.

A artesã Thamiris Cristina Queiroz, 30, e o técnico em segurança no trabalho Deividi da Costa, 31, esperaram três horas e meia para que a filha de 3 anos fosse atendida, mas desistiram. “Não havia previsão de atendimento”, disse ela.

No Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, na Bela Vista (região central), da gestão Bruno Covas (PSDB), o quadro não era diferente.

A espera variava entre duas e três horas. “Apesar da demora, eu sempre venho aqui. 

Mas estou aqui com a minha filha de três anos, tossindo, gripada, e aguardando há três horas”, afirmou o recepcionista Marciel Santos, 32.

Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde, sob gestão Covas, afirmou que os atendimentos no Hospital Municipal Infantil Menino Jesus subiram de 3.500 em fevereiro para 6.500 em março e que o pronto-socorro tem quatro médicos 24 horas por dia. 

A pasta diz que todos os pacientes que dão entrada recebem atendimento, respeitando protocolo de classificação.

Já a Secretaria de Estado da Saúde, sob gestão Márcio França, disse que a demanda no Hospital Infantil Cândido Fontoura, em abril, teve um aumento de 50% em comparação com a média mensal.

A pasta afirma que a orientação é que haja um acolhimento humanizado —e que isso será reforçado para a melhoria do atendimento.

Matéria publicada na Folha de S. Paulo.
 

Compartilhe este artigo