Poluição mata mais que os acidentes de trânsito

Em São Paulo, número de óbitos é o dobro. Segundo USP, serão 256 mil mortes até 2030.

Por Roberta Scrivano

A poluição dos carros nas duas maiores metrópoles brasileiras mata mais que os acidentes de trânsito, de acordo com o Instituto Saúde e Sustentabilidade, ligado à USP. O número de mortes atribuídas à poluição no Estado do Rio, em 2011, foi de 4.566, 50% a mais que os óbitos em acidentes de trânsito, que foram 3.044. Em São Paulo a poluição provocou o dobro de mortes, 15.700 frente aos 7.867 do trânsito. Pela projeção do instituto, a poluição em São Paulo ainda vai matar 256 mil pessoas até 2030, mesmo que as emissões caiam 5% ao ano até lá.

Para o Rio, não há projeção, mas os pesquisadores estimam que a má qualidade do ar causou a morte de 14 pessoas, em média, por dia, entre os anos de 2006 e 2012, num total de 36.194. As mortes por poluição também vão ultrapassar os óbitos por câncer de mama, de próstata e por Aids nos dois estados.

E a poluição vem dos carros: em São Paulo, 90%, e no Rio, 77%. O estudo concluiu que a poluição no Estado do Rio ultrapassa em duas vezes o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

— Os parâmetros da OMS chegam a ser três vezes mais rígidos que os do Brasil, que estão totalmente defasados porque foram definidos há 25 anos — afirma a médica Evangelina Motta Pacheco, pesquisadora e diretora do instituto, que realizou o estudo com um dos maiores especialistas na área, o médico e professor titular de Patologia da Faculdade de Medicina da USP Paulo Saldiva.

Em São Paulo, entre as causas mais prováveis de mortes estão doenças respiratórias, como asma e bronquite, e câncer. Já no Rio, são câncer de pulmão, infecções das vias aéreas e pneumonia. O cálculo, conta Evangelina, considerou dados da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e da OMS.

Emissões vêm caindo

Evangelina diz que pessoas com problemas respiratórios e circulatórios, além de idosos e crianças com inflamações nas vias aéreas são os mais suscetíveis. Fernanda Uslar, de 31 anos, está no grupo. Ela sofre de asma crônica e, quando os índices de poluição estão muito altos, chega a fazer inalação de três a quatro vezes ao dia. Fernanda anda com um “kit asma” que inclui bombinha e broncodilatadores.

— Meu plano é sair de São Paulo o mais rápido possível. Estamos procurando imóvel em Cotia, região próxima à capital, mas com bastante verde.

William Cruz, que trabalha com tecnologia da informação, vê no rosto a poluição. Ele anda até 50 quilômetros por dia de bicicleta.

— No fim da jornada, ao tirar os óculos, vejo a marca da fuligem no rosto.

Rudolf Noronha, gerente de Qualidade do Ar do Ministério do Meio Ambiente, afirma que as emissões caíram drasticamente desde os anos 1990, citando os inventários de emissão veicular:

—Entre 1991 e 1992, eram emitidos pelos carros 13 mil partículas por milhão, hoje são 10. Aquela história de filme que a pessoa se trancava na garagem com o carro ligado para se matar, hoje ia levar uma semana para morrer. Os limites que impusemos às motos são os mais rigorosos do mundo.

Programas de regulação de motores e da gasolina foram responsáveis pela redução. Mesmo assim, como as grandes cidades concentram muitos carros, as emissões são significativas. A emissão de CO2, o gás de efeito estufa, continua a subir. Para conter a alta, o governo lançou em 2013 o programa Inovar Auto, que condiciona a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) à redução de emissões, tornando o carro mais econômico.

— A ideia é que os novos motores estejam nas concessionárias no fim de 2016 — disse Luiz Moan, presidente da Anfavea, associação de montadoras, acrescentando que as empresas se empenham na redução de emissões “há décadas” e que o “investimento é maciço e constante”.

Matéria originalmente publicada no jornal O Globo

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