“Na contramão do mundo, Brasil ignora carro elétrico” – Metro

Tecnologia. Mais de 500 mil veículos já circulam no mundo, mas são apenas 70 no país. Carro não polui e é até dez vezes mais econômico do que o movido a gasolina. Para especialistas, setor não cresce por conta da alta carga tributária e da falta de incentivo do governo

Embora ainda representem uma parcela extremamente pequena da frota mundial, carros elétricos já podem ser vistos nas ruas de países da Ásia, Europa e Estados Unidos. Os investimentos e incentivos de governos ao setor também crescem cada vez mais.

No Brasil, o carro elétrico permanece engatinhando. Dos mais de 500 mil veículos elétricos que circulam pelas ruas do planeta, apenas 70 (0,014%) se encontram no país. Na China, são 200 mil e no Japão, 100 mil (veja quadro). Para especialistas, o atraso no setor é preocupante.

“O cenário é vergonhoso. Como potência energética, o Brasil deveria dominar este mercado”, afirma Paulo Roberto Feldman, coordenador de um projeto da FIA (Fundação Instituto de Administração da USP), em parceria com o IEE (Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP) e com a Sinapsis, contratado pela portuguesa EDP, que estuda cenários do setor no país.

Segundo Feldman, se 10% dos carros brasileiros fossem elétricos – o equivalente a 4 milhões de veículos – o gasto energético do país aumentaria apenas 3%. “O impacto seria desprezível perto das vantagens que o carro tem”, afirma.

O carro elétrico não polui, não faz barulho e é até 10 vezes mais econômico que um carro comum. Com uma recarga de R$ 6, o carro anda em média 150 km, ante 30 km do carro a combustível. “É bom para o meio ambiente e para o bolso do motorista”, diz Feldman.

Apesar das vantagens, o carro elétrico não consegue se estabelecer no mercado brasileiro por conta da alta carga tributária. Um veículo que deveria chegar ao país custando R$ 60 mil, chega pelo triplo do valor.

Segundo o gerente de planejamento corporativo da Nissan, Anderson Suzuki, há empresas dispostas a investir no setor, mas falta incentivo do governo. “Em outros países, a parceria entre governo e empresa privada já funciona muito bem. Sem este modelo, o carro elétrico é inviável”. Suzuki afirma que reduzir o preço do carro é apenas uma das medidas necessárias. “O governo também precisa investir em infraestrutura e dar benefícios para quem utilizar o carro”.

Um estudo internacional feito pela OACD (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) prevê que até 2030 metade dos carros nas ruas da Europa sejam elétricos e que, até 2040, o veículo represente a grande maioria. No Brasil, especialistas preferem não fazer projeções.

‘O elétrico é melhor em tudo’

Andar em um carro elétrico no Brasil é uma raridade. Mais raro ainda é poder dirigir um. O taxista Alberto Ribeiro é um dos primeiros no país a ter este privilégio. Ele e mais nove colegas trabalham com carros elétricos no Programa Piloto de Táxi Elétrico da Cidade de São Paulo. O projeto é uma parceria da prefeitura com a AES Eletropaulo, a Adetaxis (Associação de Táxis) e a Nissan.

Alberto diz que o carro elétrico é melhor em todos os aspectos. “Ele não polui, é silencioso, anda bem e quase não tem gastos.” O veículo não utiliza água, nem óleo. A manutenção fica por conta dos pneus e do combustível.

Para abastecer o carro, Alberto utiliza o eletroposto da USP, o primeiro do país. “Em 30 minutos, eu carrego 80% da bateria por R$ 6 e posso andar mais 150 km”, afirma.

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