Doria quer liberar mais torres em área nobre da zona sul

Prefeitura dará prioridade a projeto que vende potencial construtivo em bairros como Vila Andrade e Santo Amaro.

Por Adriana Ferraz e Fabio Leite

A gestão do prefeito João Doria (PSDB) decidiu apostar em um projeto de intervenção urbana (PIU) que estimula a verticalização e melhorias viárias, sociais e ambientais em áreas nobres e subutilizadas da zona sul, como Vila Andrade e Santo Amaro, e na região do Autódromo de Interlagos, que deve ser vendido pela Prefeitura no ano que vem. A ideia é usar o projeto para alavancar a privatização e potencializar o retorno financeiro com a venda de títulos de potencial construtivo acima dos limites básicos. 

Batizado de Arco Jurubatuba, o projeto foi incluído no Plano Diretor Estratégico (PDE), de 2014, pelo atual presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (DEM), aliado de Doria. O plano prevê equipamentos públicos como parques e unidades de saúde e verticalização com a venda dos Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs). Tudo em uma área de 21,3 milhões de metros quadrados, que engloba quadras cobiçadas pelo mercado imobiliário ao lado do Panamby e o eixo da Avenida das Nações Unidas entre a Ponte João Dias e o autódromo. 

A minuta do Arco Jurubatuba foi lançada para consulta pública na semana passada pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento e deve ficar aberta a sugestões até o início de julho. A divulgação do novo plano ocorreu dois meses depois que a gestão Doria decidiu congelar outro projeto urbanístico, o Arco Tietê, para “análise”. A pedido do prefeito, Milton Leite arquivou o projeto, que havia sido enviado em dezembro pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT). A medida pegou de surpresa até arquitetos e urbanistas da Prefeitura.

O projeto, que havia sido enviado por Haddad ao Legislativo em dezembro de 2016, era considerado o principal eixo do Arco do Futuro, plano urbanístico vendido pelo petista na eleição de 2012 como solução para aproximar emprego e moradia. O Arco Tietê prevê regras especiais de zoneamento para adensar e desenvolver uma área de 53,8 milhões de metros quadrados, 6% da cidade ou o equivalente à ilha de Manhattan, em Nova York (EUA), nos dois lados da Marginal do Tietê. 

“O Arco Jurubatuba é o que realmente interessa. Ali é uma região que tem investimento, interesse do setor privado, e permite arrecadar mais com Cepacs para beneficiar mais famílias”, defendeu Leite. “Se você pegar só aquele polígono do autódromo, que tem seis quilômetros, dá para fazer prédio que não acaba mais e arrecadar uns R$ 6 bilhões com potencial construtivo. Com esse dinheiro, você transforma a região.”

A secretária municipal de Urbanismo, Heloísa Proença, explicou que o Arco Jurubatuba foi dividido em seis setores conforme as especificidades de cada região e com objetivos diferentes. Já na região classificada como Polo de Negócios e Turismo, perto da Ponte João Dias, o intuito é promover o adensamento urbano com grandes prédios residenciais e comerciais.

“É um desafio grande porque é uma área heterogênea, com duas centralidades fortes, Socorro e Santo Amaro, e problemas gravíssimos ambientais e de habitação”, disse Heloísa. Na área do autódromo, contudo, será apresentado plano específico que está em estudo e deve estimular a verticalização.

Crítico

O presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-SP) em São Paulo, Fernando Túlio Franco, estranhou a retirada do Arco Tietê da pauta e classificou a proposta do Arco Jurubatuba como “genérica”. “O Arco Tietê tem uma dimensão estratégica para o desenvolvimento metropolitano. Ainda não explicaram a motivação do arquivamento.” Segundo Heloísa, esse tipo de medida é “praxe” na Prefeitura e o projeto é “muito abrangente e precisa ser mais avaliado”.

Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo

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