Deslizando sobre duas rodas

Sistemas de bicicletas e ciclovias se consolidam como melhor rota para cidades mais saudáveis e sustentáveis

POR FLORA MONTEIRO, ESPECIAL PARA O ESTADO

“A lógica de ações e políticas voltadas para a melhoria dos deslocamentos nas cidades deve estar fundamentada na ideia de que as ruas servem para transportar pessoas e não carros.” A afirmação é de Carlos Aranha, coordenador de Mobilidade Urbana da Rede Nossa São Paulo, conselheiro municipal de política urbana e cofundador do Bike Anjo, durante mesa do Summit Mobilidade Urbana Latam 2018 que discutiu caminhos para tornar o transporte mais eficiente. Segundo ele, como o automóvel particular é o modal que leva o menor número de passageiros por espaço ocupado, seu uso deve ser desestimulado em prol do ônibus, das bicicletas e de deslocamentos a pé. “O caminho não é punir quem usa o carro, mas sim beneficiar quem usa outros meios”, diz.

Há 50 anos a cidade de São Paulo prioriza o transporte particular motorizado nas políticas públicas de mobilidade. “A ponte estaiada Octávio Frias de Oliveira, inaugurada em 2008 e exclusiva para carros custou 220 milhões de reais. Com esse valor poderiam ter sido feitos mais de 400 quilômetros de ciclovias”, exemplifica Aranha.

Tal priorização prejudica não apenas a mobilidade como também a saúde da população. Dados trazidos por André Luis Ferreira, diretor-presidente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), mostram que, em São Paulo, 72% das emissões de gás de efeito estufa são provenientes do automóvel e, no Brasil, o transporte individual é responsável por três quartos das emissões totais.

O debate contou ainda com a participação de Eduardo Musa, cofundador e CEO da startup de bicicletas Yellow.

As vantagens do uso das bikes como opção integrada à matriz de transporte dos centros urbanos são muitas. Elas ocupam menos espaço nas vias, causam baixo impacto ambiental, exigem menos investimento em infraestrutura e são o meio de locomoção mais barato. “Mesmo com tantos benefícios, os ciclistas ainda são desrespeitados quando circulam pelas ruas ou estacionam em edifícios e estabelecimentos comerciais”, aponta.

As melhores cidades do mundo são aquelas onde as pessoas conseguem estudar, trabalhar, consumir e se divertir perto de casa. “Quando atingirmos essa situação muita gente usará a bicicleta como principal meio de transporte”, diz Musa.

A importância da acessibilidade, ou seja, a facilidade da população em chegar a seus destinos foi ressaltada também por Luis Antonio Lindau, diretor do Programa de Cidades do WRI Brasil. Estudo da Nossa São Paulo com o Ibope revelou que 80% dos paulistanos gostariam de deixar o carro em casa caso houvesse alternativas de transporte com qualidade. O indicador mostra o quanto é importante para as pessoas a alta qualidade no transporte.

Para isso, as ruas devem ser replanejadas para funcionarem adequadamente e de modo integrado a todos os meios, oferecendo espaço para pedestre, bicicleta, ônibus e carro.

“Precisamos ter uma rede multimodal estruturada que preze por rapidez, qualidade, segurança e eficiência e onde o sujeito possa circular sem problemas tarifários e temporais”, diz Lindau.

Matéria publicada no caderno especial "Summit Mobilidade Urbana Latam 2018 – Por deslocamentos mais sustentáveis", do jornal O Estado de S. Paulo

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