Alvo de protesto, técnicas de SP têm nota estagnada e abaixo de federais

Escolas de elite na rede estadual, Etecs não registram melhora no Enem entre 2010 e 2014. Unidades do sistema federal têm, em média, 20 pontos a mais no exame; diferença é pequena, diz governo 

ANDRÉ MONTEIRO E PAULO SALDAÑA – FOLHA DE S. PAULO

No centro de uma queda de braço entre alunos e o governo, as Etecs, escolas técnicas da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), registram estagnação no Enem e desempenho pior do que o dos colégios da rede federal no exame.

Entre 2010 e 2014 (ano com dados mais recentes), as 122 Etecs com notas do Enem nas duas edições do exame passaram de uma média de 563,1 pontos para 557,3. A queda, de seis pontos, pode ser considerada uma estagnação -à semelhança do que ocorreu com as demais escolas do país, em média.

Nesse mesmo período, os colégios federais de nível médio, a maioria com ensino técnico, também tiveram estagnação, mas continuaram em patamar superior ao das Etecs. Passaram de uma média de 586,3 pontos, em 2010, para 577 em 2014. Foram consideradas 171 unidades com notas nas duas edições da prova.

ELITE

Mesmo estagnadas, as notas das duas redes estão acima da média das escolas públicas do país. Para ter uma referência, o Ministério da Educação adota média de 450 pontos no Enem como critério mínimo para acesso ao Fies (financiamento estudantil). Já a rede estadual de SP teve média de 497,8 em 2014.

Uma explicação é a forma de seleção. Tanto as unidades federais como as Etecs fazem vestibulinho. Ao escolher os melhores, prática não adotada nas escolas públicas regulares, contam com melhores condições para alcançar desempenho superiores.

O Centro Paula Souza, que gere as Etecs, disse que é "irrelevante" a variação entre as edições do Enem e que a diferença com a rede federal não é significativa (leia ao lado).

COMPARATIVO

A Folha calculou para cada escola as médias das quatro partes da prova objetiva do Enem (ciências humanas, ciências da natureza, matemática e linguagens). Pelo modelo de correção do Enem, a TRI (Teoria de Resposta ao Item), é possível comparar provas de anos diferentes, pois o nível de dificuldade se mantém. A redação foi desconsiderada.

O professor da USP Ocimar Alavarse, especialista em avaliação educacional, diz que o fato de as escolas técnicas selecionarem alunos é a principal explicação para que elas tenham notas melhores que as da rede estadual. "Com alunos previamente selecionados haverá um resultado melhor, sem depender muito da escola", diz ele. "Nível socioeconômico não é só renda, há uma série de fatores que vão provocar desempenho melhor."

Para ele, como as escolas federais estão espalhadas pelo país, conseguem selecionar alunos melhores, pois teriam menos concorrência de outros colégios vizinhos -o que não ocorre com as Etecs. Nas técnicas estaduais analisadas, 60% atendem alunos com nível considerado alto e muito altos. São os mais elevados dos seis níveis socioeconômicos criados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) para todas as escolas que tiveram dados do Enem 2014 divulgados.

O também professor da USP Reynaldo Fernandes, um dos responsáveis pela criação do formato atual do Enem, lembra que um dos ganhos desse modelo é a comparação entre as edições.

"A gente gostaria que crescer sempre, a cada ano, mas nem sempre é possível", diz. Ele pondera que há maiores dificuldades para crescer em unidades como as Etecs "Quando as médias são maiores, é mais difícil subir."

Presidente do sindicato dos trabalhadores do Centro Paula Souza, Silvana Elena de Lima diz que a atratividade para professores está caindo devido à ausência de reajuste salarial desde 2013.

'IRRELEVANTE'

O Centro Paula Souza, órgão do governo do Estado responsável pelas Etecs, afirma que a variação de seis pontos na média das escolas no Enem é "irrisória" e "irrelevante do ponto de vista estatístico". "Dentro do universo das Etecs existem escolas que melhoraram a pontuação e outras que a mantiveram, um indicador de que não existe um problema generalizado", afirma o centro.

O órgão sustenta também que a diferença de notas em relação às da rede federal "é pouco significativa: pouco mais de 3%".

"Importante observar que os institutos federais têm presença mais forte em capitais e grandes cidades, que historicamente apresentam desempenho melhor, enquanto as Etecs estão espalhadas em municípios de perfis mais variados." O centro diz ainda que as Etecs têm currículo próprio e trabalham com projetos. 

Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.
 

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