Alckmin diz que crise da água acabou; vítimas de racionamento contestam

'Não tem mais risco, mesmo que haja seca', afirma governador tucano. Residentes na zona norte dizem, porém, que cortes continuam

POR FABRÍCIO LOBEL, GUILHERME BRENDLER E PAULO GOMES – FOLHA DE S. PAULO

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou nesta segunda (7) que a crise hídrica que atinge a Grande São Paulo desde 2014 está encerrada.

Após palestra na Associação Comercial de São Paulo, Alckmin foi questionado se a crise tinha acabado, e respondeu que "não tem mais risco, mesmo que haja seca".

O motorista Ronie Caputt, 56, reconhece que os cortes de água em sua casa, no Jardim Guarany, na zona norte, são menos frequentes desde que as chuvas voltaram a encher as represas da Grande São Paulo.

Ele, no entanto, contesta a versão oficial de que a crise hídrica acabou. "Só se for no Morumbi, no Pacaembu. Vai para os morros ver como a água continua faltando". Ele diz que toda noite sua água ainda é cortada.

BAIRROS DA ZONA NORTE SEM ÁGUA

O aposentado Manoel Andrade, 64, que mora na Vila Brasilândia, também acredita que os períodos de cortes de água ficaram bem menores em seu bairro. "Antes eu ficava sem água desde as 20h até as 4h do dia seguinte [mesmo tendo caixa-d'água]. Agora, com a caixa-d'água que eu tenho, já não sinto mais a falta (…) a situação melhorou, mas não foi o governo que fez melhorar. Foi o tempo que melhorou, e a chuva encheu a represa."

O também aposentado Manoel Palermo, 64, é mais um a criticar a declaração de fim da crise feita pelo governador. "Só se foi para ele. Estou sem água na minha casa desde ontem [domingo]. Os cortes não pararam", conta ele, que mora na Freguesia do Ó.

Desde o início da crise, em 2014, o governo paulista adotou um forte racionamento de água que atingiu, principalmente, moradores de bairros mais altos e distantes dos reservatórios. Residências de diversas regiões passaram horas por dia com a torneira seca –em alguns casos, de 15 a 20 horas.

O governo sempre evitou a palavra "racionamento" e ainda trata a medida como "redução da pressão nos encanamentos" –que empurra menos água pelos canos e, assim, reduz desperdício com vazamento.

A recente melhora na situação dos reservatórios permitiu, de acordo com Alckmin, o fim do período estendido da redução de pressão. "Isso já acabou. Voltou ao que era normal, aquele período curto de madrugada para evitar desperdício", disse.

Edir, 38, que não quis divulgar o sobrenome, administra um restaurante no Jardim Elisa Maria com a mulher. Ele afirma que continua faltando água no seu estabelecimento a partir das 21h e que a água só retorna por volta das 5h. "No final de semana, tem vezes que não tem mais água depois das 15h. Como não temos caixa d'água, a gente tem que se virar. Se é verdade [que a crise hídrica acabou], aqui não acabou, não", disse.

Adriana Cristina, 42, moradora do bairro Jardim Vista Alegre também duvida que a crise hídrica acabou em São Paulo, já que na casa dela todo dia, depois de um determinado horário, não tem mais água na torneira. Ela diz que a água na residência dela acaba por volta das 20h. "Isso que eu não moro em um lugar muito alto. Ontem [domingo] não tinha mais água antes mesmo das 20h." Nesta segunda (7), ela voltou a relatar a ocorrência do problema.

O governador afirmou que a partir de 2017 a região metropolitana estará melhor preparada para se recobrar em situações semelhantes de seca, com a chegada da PPP (Parceria Público-Privada) do rio São Lourenço e que, talvez ainda no ano que vem, a ligação do Paraíba do Sul com o Cantareira também já esteja em funcionamento.

Em outubro de 2015, pesquisa Datafolha apontou que metade dos paulistanos avaliavam como péssima ou ruim a gestão de Alckmin na crise.

Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.
 

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